Sabe aquele momento em que uma resposta vem até você, horas
ou até dias depois da pergunta, te acertando em cheio bem na mente, como se
sempre estivesse bem na sua frente e você apenas não a enxergou até aquele
instante. Você até se sente meio bobo por isso, afinal, era tão óbvio.
Bom, eu me lembro bem
de uma vez em que isso aconteceu. Lá estava eu, parado com o carro, longe de
casa, longe de tudo, na escuridão que só não era completa pelo semáforo que
banhava o asfalto molhado com sua luz vermelha. E um instante depois, de forma
completamente inesperada, a resposta veio.
Para qual pergunta? Uma que não me era feita havia anos: “Qual
sua cor favorita?”. Uma pergunta bem infantil na verdade. Ou pelo menos muito
dita na infância, quando damos nossos primeiros passos em busca da
individualidade e acreditamos que ela possa ser encontrada nos nossos gostos
para as coisas que nos cercam, até mesmo as mais simples.
E claro, nós crescemos, amadurecemos e passamos a ver que o
que nos torna únicos possui nuances muito mais profundas do que um mero
espectro de luz refletida em um objeto possa definir. E se mantemos uma
resposta às vezes é a mesma da de nossos primeiros anos, apenas por que não
tivemos razão para elaborar mais sobre ela. Não faz diferença, na verdade.
E ainda sim, foi essa a resposta que eu encontrei naquela
noite, longe de casa, longe de tudo, no meio da escuridão vermelha do semáforo
que parecia preencher o universo. Pois um segundo depois, o semáforo mudou.
O verde brilhava no asfalto úmido pela chuva, enchendo a rua,
o carro, os meus olhos. E foi ai que eu percebi algo tão simples, tão óbvio:
verde é minha cor favorita.
Mas era mais do que apenas uma cor escolhida para estar
acima das outras. Ela tocava algo mais profundo em mim, e as memórias tomaram
minha mente como uma enchente. Memórias do verde-dourado da luz do sol
atravessando as copas das árvores, de estar no topo daquele penhasco sob o sol
tropical e ver como o mar era mais esmeralda que safira. Lembranças de sonhos,
onde campos verdejantes se correm até o horizonte sob o céu azul. De olhos,
verdes como o verão.
Não era apenas a cor que eu gostava. Era a cor de tudo que
eu amo no mundo.
Muito bom eu estava ansioso para ler algo novo do Fabulista.
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