Todos nós já nos deparamos com essas palavras. Ultimamente é
impossível evitá-las. Elas estão em nossos alimentos, cardápios, programas de
televisão, camisetas, embalagens de xampus, panfletos imobiliários, tatuagens
na lombar ou sendo desenhadas com fumaça por aviões no céu. Mas qual seria a
finalidade para tamanha ubiquidade? E, afinal, o que é um glúten?
Como qualquer indivíduo razoável que tomou decisões
estudadas sobre alimentação – e que definitivamente não está apenas seguindo
uma moda – pode te dizer, glúten, em termos leigos, é a raiz de todo o mal, e vem
oprimindo a humanidade há séculos, ditando o rumo de nossas civilizações,
avanços científicos e morais, e até romances e outros aspectos extremamente
íntimos de nossas vidas. Lembra aquela pessoa por quem você se apaixonou, achou que tinha tudo para dar certo, mas que sumiu e te deixou desolado e com um coração despedaçado em mãos? Pode por essa na
conta do glúten.
Sabendo de todo mal que ele nos causa, não é de se estranhar
essa euforia por termos conquistado nossa alforria. As primeiras passeatas sem
glúten foram um sucesso de público e crítica, além de uma ótima diversão. Eu
mesmo aproveite bastante, curtindo a música, os desfiles e a marcha com tochas
e objetos domésticos como armas improvisadas, caçando qualquer glúten que
poderia estar escondido nos cantos da cidade. Um ótimo passeio familiar, como
os muitos pais que eu vi torrando marshmallows com seus filhos nos escombros
ardentes em uma padaria incendiada poderiam te dizer.
Não somente, a vida sem glúten vem se tornando o padrão
moderno. No mercado de trabalho, poder dizer que “não contém glúten” em seu
curriculum é um diferencial atraente, aumentando em até 83% a chance de
conseguir um cargo almejado. E nem pense em tentar se casar em uma igreja se
você esteve sequer próximo a glúten nós últimos seis meses, ou sem antes ter
todo trigo e seus derivados exorcizados por uma autoridade eclesiástica autorizada
para esse serviço. Hoje em dia é simplesmente impossível conviver com certas
proteínas.
Mas isso levanta a questão: Se nada contém glúten, será que
o glúten é real? Ou será apenas a
manifestação dos medos da sociedade, dos males que queremos expurgar para nos
purificar? Seria o glúten apenas um símbolo para o caminho que devemos trilhar
para sermos humanos melhores? Não, é a resposta. Nesse exato momento, um glúten
extremamente real e mais do que apenas um pouco furioso está tentando invadir
meu quarto pela janela. Felizmente ele não está fazendo um bom trabalho e um
mero cabo de vassoura aplicado entre suas ventosas quando ele se aproxima
demais tem sido o bastante para impedi-lo. Se isso vai funcionar contra todos
os outros que vejo descendo a rua, já não sei dizer.
Se você for celíaco, talvez queira evitar a minha rua. Pelo
menos até termos uma opção sem glúten.
*Título meramente figurativo. História contém glúten. Uso, leitura ou mera proximidade à história pode** causar a presença de glúten no organismo.
*Título meramente figurativo. História contém glúten. Uso, leitura ou mera proximidade à história pode** causar a presença de glúten no organismo.
** ”Pode” meramente
eufemístico. Os efeitos são inevitáveis e irreversíveis. Já nesse instante a
assimilação começou e não pode ser evitada.
Estou sentindo falta de ler algo novo neste blog... que tal um novo texto para nos entreter.
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