Céu azul e
gramados verdes, pessoas passeando com suas famílias e animais de estimação. Um
domingo perfeito no parque, do tipo que quase nada poderia estragar. O
surgimento repentino de uma pirâmide gigantesca, rasgando a terra e emergindo
no meio da área de piquenique, entretanto, surtiu esse exato efeito.
Um evento
inesperado e que gerou reações peculiares. A maioria dos presentes fez o que se
esperaria e fugiu de lá o mais rápido possível. Alguns, entretanto,
permaneceram exatamente onde estavam, assistindo o monólito brotar da terra com
uma fascinação que superava qualquer instinto.
Depois de seu espetacular
surgimento, a pirâmide nada fez além de flutuar alguns metros acima do chão por
alguns instantes – o que, por si só, já é um feito impressionante e perturbador
para milhares de toneladas de pedra. O olho desenhado em seu topo – pelo menos,
presume-se que era um desenho – fitando o céu, distante. E logo após veio a
voz.
Os curiosos que
a cercavam foram os primeiros a ouvir, mas logo ela alcançava todos na cidade.
Uma voz baixa, não um sussurro, mas um grito muito distante que dizia coisas no
fundo de suas mentes, coisas como “Quantas vezes quiser”, “Ele a matou perto do
rio”, “Ela sempre soube, mas escolheu nada dizer”. Frases desconexas,
incessantes e aparentemente sem sentido assolavam todos na cidade, até que um
deles ouviu “Aqui estou para dar todas as respostas, mas nunca as perguntas”.
Logo, a cidade
estava quase deserta. As verdades constantes e implacáveis erodiam as mentes
dos cidadãos como ondas contra um castelo de areia. Somente os mais desesperados
permaneceram, esperando encontrar alguma verdade em especial, tentando matar a
sede em uma enchente.
*conto criado para um concurso, com o limite de 20 linhas. Escrever menos é muito mais difícil que escrever mais.