Recentemente me vi afligido por uma curiosidade peculiar,
sobre meu próprio nome. Não todos eles – pensando bem eu tenho um monte. Apenas
o segundo, Aranha. De onde teria vindo? Quem teria sido a pessoa que decidiu que
um bichinho de oito pernas seria aquilo que iria marcar sua vida e de toda sua
família? Teria sido um tecelão? Um artesão? Mero doidivanas? Eu simplesmente
precisava saber.
Decidido a chegar até as raízes de minha árvore genealógica
passei a caçar todos os resquícios de informação sobre o passado. Registros
online foram um bom começo para rastrear minha ancestralidade, mas rapidamente deram
lugar a empoeiradas certidões de nascimento que, por sua vez, levaram a
registros históricos de viagens além-mar e, por fim, a histórias preservadas
somente na memória coletiva e na tradição oral. O que eu descobri foi
surpreendente e muito esclarecedor.
Tudo começou na África ancestral, o berço da humanidade. O primeiro
a ter esse nome não o escolheu por causa das aranhas, e sim por ele próprio ser
uma aranha. Anansi, a Aranha nasceu em um tempo quase esquecido, quando o mundo
não tinha histórias e viver era uma triste penação. Foi ele que, tecendo sua
teia prateada, subiu aos céus onde as histórias eram guardadas e as trouxe para
o mundo, tornando-se o Deus das Histórias.
Rapidamente as histórias se espalharam por todos os cantos
do mundo e, junto com elas, os descendentes da Aranha. Na Grécia antiga, uma
ancestral desafiou a Deusa Atena, e teve um triste fim, eternamente recontado.
No Japão eles residiam nas nuvens, perto do céu de onde todas as histórias
vieram. E em diversas partes do mundo os fios de histórias tecidos por Aranhas
levavam de volta ao começo do mundo.
Eventualmente as histórias trouxeram meus antepassados para as
florestas e costas rochosas no topo da América, muito antes dela receber esse
nome. Foi no frio do norte que a Mulher Aranha chamada Asibikaashi, vendo seus
filhos espalharem-se por terras cada vez mais distantes, passou a tecer teias
em meio a círculos feitos com galhos de salgueiros. Essas teias iriam apanhar
os pesadelos, permitindo que apenas os sonhos bons entrassem na mente de suas
crianças onde quer que estivessem. Até hoje os apanhadores de sonhos criados
pela Aranha são usados para proteger o sono de milhares por todo o mundo.
E, um dia, Aranha chegou às partes mais tropicais do continente.
E aqui continuamos, honrando a tradição orgulhosa que esse nome traz, tecendo
contos, enredando narrativas, tramando fábulas, urdindo lendas. É algo que
corre no sangue.